Friday, March 30, 2007

Alvo fácil

Havia, em Esparta, três "classes" sociais bastante distintas: os espartanos, os periecos e os hilotas.

Os espartanos eram aristocratas descendentes dos dórios, conquistadores da região. Os periecos eram os habitantes da periferia, homens livres que não possuíam direitos políticos, descendentes dos antigos povos micênicos que habitaram a região e foram conquistados pelos dórios.

Os hilotas, escravos por nascimento, captura ou guerra, viviam em servidão total. Não tinham qualquer direito e não se casavam. Em decorrência de sua situação, surgiam revoltas frequentes, facilmente controladas. Para inibir as revoltas, os espartanos os mantinham em regime de terror. Uma das estratégias mais cruéis era usar hilotas como alvos móveis em exercícios de guerra: os espartanos mandavam que corressem, em um recinto espaçoso e fechado, e atiravam lanças, para treinar a pontaria. Uma vez escolhido para alvo móvel, não havia meios de sair com vida da experiência.

Wednesday, March 28, 2007

Depois dos 300

Um dos episódios mais interessantes da história grega é a guerra contra os persas.

Dez anos após a derrota de Ciro em Maratona, Xerxes assumiu o trono e a guerra contra os gregos, planejando invadir a Grécia por terra, pelo norte. O objetivo era conquistar Atenas, situada na Ática, ao sul (a razão oficial era punir os atenienses por encorajar as cidades da Àsia Menor, conquistadas por Ciro, a se revoltar).

A meio caminho em direção ao sul, o exército persa foi retido três dias pelos espartanos no desfiladeiro das Termópilas, única passagem por terra entre o norte da Grécia e o sul.

Com o atraso dos persas, os atenienses tiveram tempo de abandonar a cidade e forçar o inimigo a lutar por mar, onde a engenhosidade dos gregos fez história.

Temístocles, o líder ateniense, persuadiu os concidadãos a fugir para a ilha de Salamina. Em seguida, fez chegar ao conhecimento de Xerxes que os navios helênicos estavam encurralados nas águas rasas de Salamina.

Xerxes foi atraído pelo engodo e seus navios, de grande porte, ficaram atracados no estreito, à mercê dos navios atenienses, que, por serem de pequeno porte, podiam navegar naquelas águas. Então, com as lanças de ferro construídas nas proas de seus navios, os navios atenienses furaram um a um os navios do inimigo.

A guerra não acabou aí, mas esta derrota e a consequente retirada de parte do exército persa foi decisiva para a vitória dos gregos.

Monday, March 26, 2007

Lei de mercado

Demades, um orador ateniense que viveu no século IV a.C., conseguiu convencer a assembléia de que um certo artesão deveria ser punido, o que de fato aconteceu.

Mas o que esse homem fazia de tão grave, para virar assunto em assembléia?

Apenas vendia os caixões que fabricava a preços exorbitantes. Como caixões são tão necessários quanto sandálias e braceletes, o homem corria o risco de ficar rico muito rapidamente, especialmente em época de guerras. Mas deram logo um jeito de estragar a festa sob a alegação de que é uma indignidade alguém enriquecer com a morte dos cidadãos.

O tal artesão não devia ter concorrentes.

Saturday, March 24, 2007

Homem-lagartixa

Esta realmente é demais.

No século XIX um tal Miguel João Pellicier, espanhol, sofreu um acidente e feriu a perna. Quase um mês depois ela foi amputada e devidamente enterrada no cemitério do hospital.

Nos meses seguintes o coxo ia à igreja todos os dias para untar a ferida com o óleo das lâmpadas e pedir por sua reabilitação. Três anos depois foi atendido: o rapaz acordou em um belo dia com as duas pernas. Sim, com as duas pernas: a boa, e aquela que tinha sido enterrada, e havia desaparecido do cemitério.

O melhor da história é que a perna que desapareceu do cemitério e apareceu no corpo do rapaz ainda estava em perfeitas condições. Só mantinha as cicatrizes da cirurgia, claro.

Isto sim é um milagre.

Supondo alguma verdade nesta história, os moradores da cidade certamente tinham dificuldade em distinguir madeira trabalhada de tecido orgânico. E, claro, devia convir ao rapaz manter a confusão.

Ora. Fala sério.

Thursday, March 22, 2007

A mulher espartana

Os cinco filhos de uma mulher espartana lutavam na mesma batalha. Morreram todos. Quando foram à sua casa lhe dar a triste notícia, ela perguntou: "Esparta venceu?"
O mensageiro respondeu que sim, e ela concluiu: "Então está tudo bem".

Tuesday, March 20, 2007

Delírios de Rousseau (7): Má vontade

Lembro que, em um curso sobre marketing, o instrutor disse: se você não quiser (ou não puder) ser criativo em propaganda, use uma criança para apresentar seu produto.

O mesmo vale para Rousseau. Faltou assunto? Abra o Segundo Discurso. Há ali um manancial inesgotável de afirmações absurdas. O Emílio também serve, claro, mas vou guardá-lo para o futuro.

Pois é, não me falta assunto, mas falta tempo prá escrever com calma. Hora de pedir ao Super-Filósofo e seu manualzinho de asneiras que venham me salvar.

A asneira de hoje é sobre animais ferozes. Diz Rousseau (página 9 da Coleção Os Pensadores, edição de 1973) que os animais ferozes atacam de má vontade o homem. De onde ele tirou essa idéia, só ele para dizer, mas o que eu gostaria mesmo de saber é o que os animais fariam com o homem se realmente tivessem vontade de atacá-lo.

Saturday, March 17, 2007

Os 300 que não eram de Esparta

Um dos piores filmes que não vi atualmente é 300 (aquele em que Rodrigo Santoro aparece fantasiado de ET, com voz de Darth Vader). Não posso falar muito sobre o filme porque não consegui vê-lo até o final. O filme me deixou com uma sensação de total perda de tempo.

Em primeiro lugar, a linguagem é de histórias em quadrinhos, das piores, as de supervilões e superheróis. Ou, se se quiser, um destes jogos insuportáveis de PlayStation. Só há personagens-tipo, sem alma.

O rei Leônidas, de Esparta, age como se governasse sozinho, quando em Esparta havia dois reis. A esposa não é uma mulher espartana. Os Éforos, aquele conselho de cinco anciãos, coitado, virou um conselho de monstrengos. O episódio em que o rei persa manda um mensageiro dizer aos gregos que se rendam, enviando como sinal um pouco de terra e água, aconteceu na verdade com os atenienses, e a resposta foi: "venham buscar". Prá completar, os gregos geralmente tinham respeito por seus inimigos. Foi assim com Tróia (diz a lenda), foi assim com Xerxes, foi assim com Felipe da Macedônia. Alexandre agia da mesma forma, o que acabou por irritar seu exército na Babilônia.

Tudo isto, claro, sem falar na caracterização absurda de Xerxes, uma figura andrógina que se considera deus (o que é de fato um dado histórico), mas é um demônio.

Como disse, não vi o filme até o fim, mas foi esta "vitória" dos espartanos nas Termópilas (que, com trezentos homens, detiveram por três dias o exército persa) que permitiu a Atenas vencer a guerra.

Ah, sim, é filme, não é história. Tudo bem, mas para quem conhece um pouco desta história o filme soa como uma piada de muito mal gosto. É grotesco. Criar uma fantasia que tem como pano de fundo a história só serve mesmo para atrair os desavisados.

Thursday, March 15, 2007

Sokal X Baudrillard

Alan Sokal pregou uma peça nos intelectuais, em 1996: publicou um artigo em revista especializada, com o título "Atravessando as Fronteiras - Em Direção a uma
Hermenêutica Transformativa de Gravidade Quântica". Não dizia coisa com coisa e exagerava no jargão supostamente científico. O artigo foi recebido com aplausos, comentado, elogiado, revisado. Alguns meses depois o próprio Sokal revelou a farsa: escreveu um outro artigo, onde apontou as deficiências, erros e imprecisões propositais do primeiro, que havia sido tão bem recebido, sem ter sido de fato entendido. A peripécia colocou em cheque tanto filósofos da ciência e psicanalistas quanto toda a comunidade acadêmica. Seus alvos principais eram Lacan, Deleuze e Kristeva. Logo em seguida escreveu "Imprecisões Intelectuais" junto com Jean Bricmont em que relata a experiência e faz críticas mais diretas a alguns intelectuais.

Independentemente da qualidade do livro, que é uma leitura imprescindível, Sokal faz uma crítica em especial de que não posso concordar. Segue abaixo um trecho da entrevista que deu à Folha (o texto completo está no link do título deste post).

Diz ele sobre Baudrillard:

FOLHA - O que o sr. critica na obra e nos textos de Baudrillard?

SOKAL - Muitos dos textos dele são escritos em um estilo pomposo que
parece ser profundo, mas cujo significado preciso (no caso de haver
algum) está longe de ser claro. Bricmont e eu concluímos nossa análise
dos abusos de Baudrillard afirmando que "se encontram nas obras dele
uma profusão de termos científicos, usados com displicência em relação
a seus significados, e, acima de tudo, em um contexto em que são
claramente irrelevantes. [...] Além disso, a terminologia científica
vem misturada com um vocabulário não-científico, que é empregado com
igual falta de rigor".


Fico me perguntando se Sokal e Bricmont não sabem o significado da palavra "metáfora". Meu objetivo não é defender Baudrillard, ou qualquer outro filósofo francês (amantes de metáforas), mas observar que, quando Baudrillard fala em metástase, obviamente não o faz em um contexto científico, mas apenas se utiliza do campo semântico desta palavra (ou seja, a expansão de um tumor, a propagação de algo nocivo) para ilustrar o que quer dizer sobre a cultura. Não se trata de empregar o termo em seu contexto, ou de usá-lo com rigor, porque não se trata de falar em metástase exatamente, mas de usar esta idéia para explicar outra coisa.

Posso estar enganada, mas não percebo a relevância desta crítica em específico. Ao contrário, me parece muito mais uma exigência de que o termo científico seja usado com rigor científico. Mas peraí. Não é isto que Baudrillard quer, e nem é aí que ele está.

Sunday, March 11, 2007

O dia em que Platão foi vaiado

Platão era um jovenzinho quando Sócrates foi julgado e condenado, mas sofreu profundamente a perda do mestre e tentou evitar sua morte. Durante o julgamento, conta Diógenes Laércios, Platão subiu à tribuna para defender Sócrates:

"Homens de Atenas! Embora sendo o mais novo de todos os que em qualquer tempo subiram a essa tribuna..."

Não conseguiu completar a frase. Os juízes gritaram em coro: "Desce! Desce!"

E lá se foi o mais jovem ateniense a subir na tribuna: diretamente para baixo.

Diógenes Láercios, Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres II, 5, 42.

Thursday, March 08, 2007

Há algo errado com Sócrates

Definitivamente, Sócrates tinha algum problema. Platão conta, em várias passagens de suas obras, que Sócrates se envolvia tão profundamente com os problemas teóricos que o embaraçavam que perdia a noção de tempo e lugar e ficava alheio a tudo que não fosse seus pensamentos.

Em um dos diálogos (O Banquete) Platão diz (não sem exagero, acredito) que, indo Sócrates e os discípulos a uma casa onde seriam recebidos para um debate, caminhava um pouco afastado dos discípulos, logo atrás, pensativo, enquanto os discípulos conversavam alegremente. Ao chegarem à casa, perguntaram aos discípulos: "Mas onde está Sócrates? Ele não vem?"

Espantados, eles se deram conta de que Sócrates não estava mais entre eles. Então, refizeram o caminho à procura do filósofo e o encontraram de pé, encostado em uma árvore, a meio caminho.

Até aí, tudo bem. Mas Platão conta ainda que os discípulos o chamaram, e ele não respondeu. Desistindo, resolveram deixá-lo onde estava... e o surpreendente é que no dia seguinte ele continuava no mesmo lugar, exatamente do mesmo jeito. Havia passado a noite inteira de pé, pensando.

Este fato e outros semelhantes são relatados prova da genialidade do filósofo, mas estou convencida de que significam mais que isso. Significam que havia algo de errado com Sócrates. Não posso acreditar que alguém fosse capaz de passar uma noite inteira e todo o dia seguinte de pé, pensando, sem se dar conta disso.

Tuesday, March 06, 2007

Jean Baudrillard

Morreu hoje, 06.03.07, o filósofo e sociólogo francês Jean Baudrillard, autor de "Signos", "América, "A Transparência do Mal", "A alucinação coletiva do virtual", "A conjuração de imbecis", "Simulação e Simulacro", "Da sedução", "À sombra das maiorias silenciosas", "Contra Foucault" e outros. Boa leitura, mas não exatamente fácil. A proximidade com Kierkegaard é grande.

Vá pela sombra, Jean.

Eis um trecho de "A transparência do Mal", que já citei aqui uma vez:

Se fosse caracterizar o atual estado de coisas, eu diria é o da pós-orgia. A orgia é o momento explosivo da Modernidade, o da liberação em todos os domínios. Liberação política, liberação sexual, liberação das forças produtivas, liberação das forças destrutivas, liberação da mulher, da criança, das pulsações inconscientes, liberação da arte. Assunção de todos os modelos de representação e de todos os modelos de anti-representação. Total orgia de real, de racional, de sexual, de crítica e de anticrítica, de crescimento e de crise de crescimento. Percorremos todos os caminhos da produção e da superprodução virtual de objetos, de signos, de mensagens, de ideologias, de prazeres. Hoje, tudo está liberado, o jogo já está feito e encontramo-nos coletivamente diante da pergunta crucial: O QUE FAZER DEPOIS DA ORGIA?

Só podemos agora simular a orgia e a liberação, fingir que prosseguimos acelerando, mas na realidade aceleramos no vácuo, porque todas as finalidades da liberação já ficaram para trás, e o que nos preocupa, o que nos atormenta é essa antecipação de todos os resultados, a disponibilidade de todos os signos, de todas as formas, de todos os desejos. Que fazer então? Isso é o estado de simulação, aquele em que só podemos repetir todas as cenas porque elas já aconteceram — real ou virtualmente. É o estado da utopia realizada, de todas as utopias realizadas, em que é preciso paradoxalmente continuar a viver como se elas não o estivessem. Mas, já que o estão e já que não podemos ter a esperança de realizá-las, só nos resta hiper-realizá-las numa simulação indefinida. Vivemos na reprodução indefinida de ideais, de fantasmas, de imagens, de sonhos que doravante ficaram para trás e que, no entanto, devemos reproduzir numa espécie de indiferença fatal. No fundo, a revolução já aconteceu em toda a parte, mas não do modo como se esperava. Em toda a parte, o que foi liberado o foi para passar à pura circulação, para entrar em órbita. Com certo recuo, pode-se dizer que o fim inelutável de toda a liberação é fomentar e alimentar as redes. As coisas liberadas são fadadas à comutação incessante e, portanto, à indeterminação crescente e ao princípio de incerteza.

Nada mais (nem mesmo Deus) desaparece pelo fim ou pela morte mas por proliferação, contaminação, saturação e transparência, exaustão e exterminação, por epidemia de simulação, transferência na existência segunda da simulação. Já não há modo fatal de desaparecimento, mas sim um modo fractal de dispersão. Nada mais se reflete de fato, nem em espelho, nem em abismo (que nada mais é que o desdobramento infinito da consciência). A lógica da dispersão viral das redes já não é a do valor nem a da equivalência. Já não há revolução, mas circunvolução, uma involução do valor. Ao mesmo tempo, uma compulsão centrípeta bem como uma excentricidade de todos os sistemas, uma metástase interna, uma autovirulência febril que os leva a explodir além de seus próprios limites, a ultrapassar a própria lógica, não na pura tautologia mas num aumento de força, numa potencialização fantástica em que eles arriscam a própria perda.

Todas essas peripécias nos fazem retornar ao destino do valor. Eu havia invocado outrora, num obscuro intento de classificação, uma trilogia do valor. Um estádio natural do valor de uso, um estádio mercantil do valor de troca, um estádio estrutural do valor-signo. Uma lei natural, uma lei mercantil, uma lei estrutural do valor. É claro que essas distinções são formais, mas é como os físicos que inventam cada mês uma nova partícula. Uma não expulsa a outra: elas sucedem-se e adicionam-se numa trajetória hipotética. Vou, portanto, aqui acrescentar uma nova partícula à micro-física dos simulacros. Depois do estádio natural, do estádio mercantil, do estádio estrutural, eis que chega o estádio fractal do valor. Ao primeiro correspondia um referente natural, e o valor desenvolvia-se em relação com um uso natural do mundo. Ao segundo correspondia um equivalente geral, e o valor desenvolvia-se em referência a uma lógica da mercadoria. Ao terceiro corresponde um código, e o valor aí se desenvolve em referência a um conjunto de modelos. No quarto estádio, o estádio fractal, ou estádio viral, ou ainda estádio irradiado do valor, já não há nenhuma referência: o valor irradia em todas as direções, em todos os interstícios, sem referência ao que quer que seja, por pura contigüidade. No estádio fractal, já não há equivalência, nem natural nem geral, nem há lei do valor, de proliferação e de dispersão aleatória. Em rigor, já não se deveria falar de valor, já que essa espécie de mulipicação e de reação em cadeia torna impossível qualquer avaliação. Mais uma vez é como na microfísica: é tão impossível calcular em termos de belo ou feio, de verdadeiro ou falso, de bem ou mal, quanto calcular ao mesmo tempo a velocidade e a posição de uma partícula. O bem já não é perpendicular ao mal, nada mais se coloca em abscissas e ordenadas. Cada partícula segue seu próprio movimento, cada valor ou fragmento de valor brilha por um instante no firmamento da simulação para desaparecer no vácuo, segundo uma linha quebrada que só excepcionalmente encontra a dos outros. É o esquema peculiar ao fractal; é o esquema atual de nossa cultura.

Quando as coisas, os signos, as ações são libertadas de sua idéia, de seu conceito, de sua essência, de seu valor, de sua referência, de sua origem e de sua finalidade, entram então numa auto-reprodução ao infinito. As coisas continuam a funcionar ao passo que a idéia delas já desapareceu há muito. Continuam a funcionar numa indiferença total a seu próprio conteúdo. E o paradoxo é que elas funcionam melhor ainda.

Friday, March 02, 2007

Ironia do destino

Coincidências não existem. Ao menos, é o que ouço quase todos os dias. Seja como for, Aristóteles conta que um tal Mítis, que havia sido responsável pela morte de um escultor, estava um dia observando uma das esculturas do morto quando o inesperado aconteceu: ela caiu sobre ele e o matou. Terá sido uma vingança dos deuses? Será que o próprio artista matou o causador de sua morte?

Coincidências existem, sim, para quem não acredita em Papai Noel, duendes ou justiça cósmica. Para o restante da humanidade, é apenas coincidência demais.

Eis o trecho da Poética em que Aristóteles narra o incidente:


56. Como, porém, a tragédia não só é imitação de uma ação completa, como também de casos que suscitam o terror e a piedade, e estas emoções se manifestam principalmente quando se nos deparam ações paradoxais, e, perante casos semelhantes, maior é o espanto que ante os feitos do acaso e da fortuna (porque, ainda entre os eventos fortuitos, mais maravilhosos parecem os que se nos afiguram acontecidos de propósito — tal é, por exemplo, o caso da estátua de Mítis em Argos, que matou, caindo-lhe em cima, o próprio causador da morte de Mítis, no momento em que a olhava —, pois fatos semelhantes não parecem devidos ao mero acaso), daqui se segue serem indubitavelmente os melhores os mitos assim concebidos.