Wednesday, February 28, 2007

Perfil psicológico

Encontrei mais um teste divertido, inócuo e absolutamente (des)importante. Se não tiver nada prá fazer, já encontrou. O resultado será sempre adequado ao seu perfil, porque todos são, e tem a vantagem de só dizer coisas boas. :-))

Monday, February 26, 2007

Mistério

De Churchill sobre a União Soviética:

"Uma charada envolta em mistério dentro de um enigma".

Tuesday, February 20, 2007

Os filósofos e o riso (1): Kant

Que Kant não devia rir muito, ou apreciar o riso, é altamente provável. Mesmo assim, ele tinha uma teoria a respeito:

Em tudo o que pode suscitar um riso vivo e abalador tem que haver algo absurdo (em que, portanto, o entendimento não pode em si encontrar nenhuma complacência). O riso é um afeto resultante da súbita transformação de uma tensão expectativa em nada (Crítica da Faculdade de Julgar 52, 225).

Em outra passagem ele diz que, se a expectativa resultar em alguma coisa, o que vem a seguir não é o riso, mas a frustração. Portanto, tem de resultar em nada.

Faz sentido. Mas, por melhor que fosse em definir o riso, Kant certamente não era tão bom em provocá-lo, exceto por sair para caminhar todos os dias exatamente à mesma hora, fazendo a cidade inteira acertar os relógios à sua passagem.

Monday, February 19, 2007

Bebê real

Henrique I (1068-1135), rei inglês, é uma das figuras mais fortes da história da Inglaterra. Teve um casamento longo e tumultuado com Eleanor de Aquitânia, uma mulher inteligente e dominadora, que queria mudar o mundo, mas acabou mudando apenas os costumes da Inglaterra. Eleanor, que já estava no segundo casamento, foi mãe da maior parte dos monarcas da Europa da geração seguinte. Em sua prole com Henrique I contam-se Ricardo Coração de Leão e o famigerado João Sem Terra.

Entre os feitos de Henrique I, está o mérito de restabelecer a paz entre os senhores feudais, a ordem no país e o poder real. Mas, como todo monarca que se preze, era baixo, roliço, bom de garfo e não dava a mínima para a higiene pessoal. Mas isso talvez se devesse ao medo de morrer afogado.

O espantoso a respeito dele é que, quando ficava bravo, literalmente rolava pelo chão aos uivos, o que não ficava nada bem em sua majestade, mas fazia os súditos sairem correndo depressinha, fosse para atendê-lo, fosse para fugir dele.

As mulheres da corte, entretanto, talvez por terem filhos pequenos, conseguiam lidar bem com a fúria do monarca.

Sunday, February 18, 2007

Subterrâneos do Vaticano

Em 1152, Frederico I, o Barba Ruiva, ascendeu ao trono germânico (que se tornaria o império franco-germânico).

Frederico achava que era descendente e sucessor dos antigos imperadores romanos. Portanto, herdeiro natural de todo o ocidente conhecido então. Para assumir o que lhe era de direito, havia um grande obstáculo: o poder político da igreja de Roma.

O problema ficou um pouco maior quando um inglês, Nicholas Breakspear, tornou-se o papa Adriano IV, em 1154. Os desentendimentos entre eles, que resultaram na excomunhão do Barba Ruiva, giraram em torno tanto de coisas banais, como Frederico se recusar a segurar as rédeas do cavalo do papa, quanto de disputas políticas sérias, como a revolta das cidades do norte da Itália.

Quando Adriano IV tornou-se papa, havia em Roma um tal Arnaldo de Brescia, cônego agostiniano, que achava porque achava que a igreja devia ser pobre como ele. Era tão obstinado com a idéia da pobreza alheia que conseguiu incitar uma rebelião em Roma. Foi preso, mas isso não era o bastante.

Como Frederico precisava ser coroado rei pelo papa (mais precisamente, receber a benção que o tornaria sucessor ao trono também por direito divino), Adriano IV enviou uma mensagem ao monarca: aceitaria coroá-lo rei se e somente se Frederico I lhe entregasse Arnaldo de Brescia.

Frederico I atendeu prontamente: entregou o rebelde ao prefeito de Roma, que o devolveu à Santa Sé, bem enforcadinho, conforme o desejo do papa. Afinal, o tal Brescia era um zé-ninguém para o imperador, um agitador para o prefeito de Roma e um perigo para o conforto material do papa. E depois, lá se vão os dedos, mas ficam-se os anéis.

Saturday, February 17, 2007

Sebastopolitano

Meu pai é uma graça. Preocupada com o fato de que ele não anda lá muito bom da memória, sugeri que exercitasse mais a mente, resolvesse palavras cruzadas, quebra-cabeças, essas coisas. A reação foi imediata: "Memória ruim? Eu não tenho memória ruim! Você lembra, por acaso, onde fica Sebastopol? Não? Pois eu me lembro! Quem é mesmo que tem memória ruim aqui?"

Cruzes! Sebastopol? De onde veio isso?

Então está resolvido: se ele é capaz de se lembrar de que existe Sebastopol (ainda existe?), ninguém pode dizer que não tenha boa memória, o que me leva a outro "diagnóstico": trata-se apenas de desinteresse pelas coisas do dia-a-dia.

A não ser, é claro, pelo fato de que lembrar de uma informação que reteve em mil-novecentos-e-bolinha não invalida a tese de que anda se esquecendo de fatos recentes, mas eu é que não falo mais nada.

Sei lá para onde ele não vai depois de Sebastopol.

Friday, February 16, 2007

Os mortos ilustres do Père Lachaise

O cemitério mais famoso do mundo é o Père Lachese, em Paris, e não é pra menos. Em 44 hectares de extensão estão enterradas várias personalidades da história mundial. São 110 mil sepulturas.

O cemitério recebe 3 milhões de visitantes por ano. A única sepultura problemática, se podemos dizer assim, é a de Jim Morrison, o líder do grupo The Doors. Há um movimento para retirar Jim Morrison de lá, porque sobram garrafas, fumo, seringas, velas e restos de comida em torno de seu túmulo.

Eis alguns dos mortos ilustres do Père Lachaise:

- Oscar Wilde
- Frederic Chopin
- Marcel Proust
- Max Ernst
- Alain
- Claude Bizet
- Edith Piaf
- Baudelaire
- Moliére
- Alan Kardec
- Honoré de Balzac
- Lyotard
- Dominque Ingres
- Apollinaire
- Barbedienne
- Sarah Bernhardt
- Paul Eluard
- Modigliani
- Merleau-Ponty
- La Fontaine
- Delacroix

Dizem que os restos mortais de Cleópatra, a rainha do Egito, também estariam lá, levados por Napoleão.

Thursday, February 15, 2007

Lei da compensação

Tomás de Aquino (1225-1274) viveu 49 anos, a maior parte deles com uma barriga que não deixaria nenhum santo com inveja.

Teria sido verme, cerveja ou fé em excesso?

Com certeza jejuava pouco, mas devia ter mesmo muita fé.

A barriga era tão grande que ele tinha dificuldade para fazer as refeições: não conseguia se sentar perto o suficiente da mesa.

Bobagem. Problema existe prá ser resolvido: serraram a madeira da mesa, fazendo um meio-círculo bem grande, bem grande mesmo, para que ele pudesse encaixar o barrigão.

Mas ora. Bastava apoiar o prato na barriga. Com babador, claro.

Ou então, se tivesse pensado melhor, teria feito um bom regime e vivido mais tempo. Mas o voto de castidade devia tornar essa opção impossível.

Wednesday, February 14, 2007

As sete maravilhas do mundo moderno

Então.

Clique no título e escolha as novas maravilhas do mundo. O Cristo Redentor é um dos candidatos.

Aproveite para não se registrar, não votar e não comprar o certificado de voto, seja lá para que isso sirva. É só agência de turismo querendo vender passagem.

Mas dá prá espiar algumas maravilhas que o homem construiu: os moares da Ilha de Páscoa, um castelo alemão, a Acrópole, Angkor Vat, Stonehenge, o Coliseu, etc.

Tuesday, February 13, 2007

Strip-tease sartreano

E por falar em existencialismo, vamos ao pai contemporâneo da criança.

Em determinado momento de uma festa animada, Sartre empolgou-se e subiu em uma mesa para dançar. O amigo Paul Nizan fez o mesmo, e ficaram os dois dançando em cima da mesa, enquanto os demais ficavam em volta, se divertindo com a cena. A certa altura o jovem Sartre, entusiasmadíssimo, começou a tirar a roupa, peça por peça. O amigo Nizan fez o mesmo. Lá pelas tantas, quase totalmente sem roupa, e mais empolgado ainda, Sartre, talvez porque não era lá muito bom das vistas, talvez porque quisesse fazer graça, talvez simplesmente porque quisesse, agarrou o amigo e tentou beijá-lo. O que era um strip-tease virou um "vem-cá" e "me solta" que divertiu ainda mais a platéia. Só Nizan não achou graça. Não sei se a amizade acabou exatamente aí, mas não durou muito mais. Viraram inimigos eternos.

Mas bem que eu gostaria de ver um strip-tease existencialista, seja lá o que isso signifique.

Monday, February 12, 2007

Aquarela

Ouvi recentemente que o "descolorirá" final da música "Aquarela", de Toquinho, é existencialista, e fiquei me perguntando, como sempre, o que há comigo que não tenho essa percepção das coisas. Por que existencialista? Porque vamos morrer e acabou-se? Porque o "descolorirá" significa que não vamos colorir em outro lugar, depois da morte? Mas ora, por que isto haveria de ser exatamente existencialista? Os niilistas e os ateus não dizem a mesma coisa? Não há existencialismo cristão? O que torna o final da música "Aquarela" tão existencialista assim? Juro que não entendo.

Ou talvez entenda. Talvez seja simplesmente legal dizer algo assim, ou talvez o termo "existencialista" seja muito mais amplo do que a nossa vã filosofia pode imaginar.

Eis aí a estrofe:

Nessa estrada não nos cabe conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
de uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá

Sunday, February 11, 2007

Roteiro de filme B

Hoje minha família foi premiada com o golpe do sequestro. Eu não estava presente quando houve a primeira ligação, caso contrário teria desligado o telefone imediatamente e ligado para a polícia, porque assisto aos telejornais e estou informada do golpe.

Mas esse não era o caso dos meus pais. Pode-se imaginar a confusão. Foram compradas, às pressas, pilhas de cartões de celular. Quando fui informada e cheguei, tive dificuldade em entender o que aquela pilha de cartões tinha a ver com o suposto sequestro. O "sequestrador" exigia os números dos cartões para não matar o "sequestrado".

Desfeita a confusão, atendi a uma das ligações. A essa altura um amigo policial já estava presente. Mesmo após informar ao "sequestrador" que a polícia já havia sido acionada, e mesmo depois que o "sequestrado" atendeu ele próprio à ligação, o bandido continuou ligando. Desistiu apenas quando deixamos de atender.

Qualquer coisa que possa dizer sobre esse episódio será retórico. Só espero que minha família assista menos novelas e mais telejornais a partir de agora.

O lado bom é que por um bom tempo não precisarei comprar cartões de celular.

Friday, February 09, 2007

Contradição

Coincidências não existem, claro. Tudo está em conformidade com a vontade de uma força maior, invisível. O que parece coincidência é destino, aviso ou alerta.

Bem, falando sobre Schopenhauer em sala de aula, comentei que, para ele, a esmola que damos aos mendigos só serve para prolongar por mais um dia a sua miséria.

Até aí tudo bem.

Mas eis que, no instante em que termino a frase, um mendigo entra na sala de aula, pedindo esmola (coisa raríssima, aliás, o que reforça o fato de que coincidências não existem. O mendigo conseguiu burlar a vigilância).

Que fazer? Que dizer? Que pensar? Puxa, logo agora? Diante de 50 pares de olhos atentos e curiosos quanto à minha reação? Que coisa!

É, dei a esmola.

Deve ter sido um aviso de que na prática a teoria é outra.

Wednesday, February 07, 2007

Pensando

Encontrei em Adorno, no artigo "Observações sobre o pensamento filosófico" (Palavras e Sinais, p. 24):

"A imagem de quem se senta a fim de meditar sobre algo, para sondar o que ainda não sabia, é tão equivocada quanto a aposta, a das intuições que caem do céu. (...) Não seria um mau indício sensível para isso o lápis ou a caneta que alguém segura na mão enquanto pensa, assim como foi transmitido por Simmel ou por Husserl, o qual, como se sabe, mal conseguia pensar a não ser escrevendo, de maneira similar a de alguns escritores aos quais as melhores idéias ocorrem enquanto estão escrevendo."

Puxa. Então esse é o segredo: basta escrever de pé que lá vem idéias brilhantes.

Monday, February 05, 2007

Didaticamente falando

Psicologicamente falando, se há uma coisa que acho difícil de entender é o advérbio usado antes do gerúndio para situar a afirmação que será feita em seguida.

Matematicamente falando, nada se acrescenta.
Semanticamente falando, não faz sentido.
Gramaticalmente falando, a expressão deixa a desejar.
Administrativamente falando, ninguém perderia nada se fosse suprimida.
Musicalmente falando, revela descompasso com a fala articulada que se pretende formular.
Linguisticamente falando, é só mais um anglicismo.
Culturalmente falando, é apenas mais uma dessas bobagens que alguém inventa. Antropologicamente falando, os outros saem por aí imitando como se fosse a coisa mais inteligente a se fazer.

Bem, verdade seja dita: retoricamente falando, até que serve prá chamar a atenção, ainda que não passe disso.

Saturday, February 03, 2007

Comichão

A filosofia não fez nenhum progresso? Se alguém coça onde lhe comicha, é preciso ser visto algum progresso? Caso contrário, isso não será um coçar autêntico ou uma comichão autêntica? E não poderá essa reação ao estímulo continuar por longo tempo até que seja encontrada uma solução para o comichar?

Richard Rorty - A filosofia e o espelho da natureza

Se entendi bem, esta é uma citação que Rorty faz de Wittgenstein. De qualquer modo, tenho uma receita ótima para acabar com o problema: converse com um especialista, antes que a coisa fique fora de controle.