Saturday, September 30, 2006

Bonecos cartesianos

Havia, nos jardins reais da Paris do século XVII, uma espécie de Disneylândia: alguns bonecos colocados no centro de uma fonte produziam sons e respondiam à aproximação de seres humanos com movimentos dos braços, das mãos ou da cabeça, assustando os visitantes, por parecerem estar vivos. Mas estes movimentos eram, na verdade, efeito de um mecanismo muito simples: quando os visitantes se aproximavam dos bonecos para vê-los melhor, pisavam inadvertidamente em uma perda ou tabuinha que fazia o mecanismo funcionar.

Mas o que tudo isso tem a ver com Descartes?

Ele usou os bonecos do parque de diversões como modelo para descrever o corpo humano: a força das águas que emergia das fontes dos jardins reais era capaz de, sozinha, mover várias máquinas. Descartes supôs então que o corpo humano era movido também por uma espécie de sistema hidráulico: os tendões e nervos seriam o encanamento; o coração seria a fonte de água e o cérebro seria algo com um tanque de armazenamento da água. Como uma caixa d'água, entende?

A respiração seria a encarregada de manter tudo isso funcionando.

Trocando em miúdos, nossos corpos seriam basicamente líquido em movimento.

Êta raciocínio analógico!

E não é que tem lá seu sentido?

Thursday, September 28, 2006

Maratona da natureza humana

Já dizia o sábio Thomas Hobbes:

A comparação da vida do homem com uma corrida, se bem que não possa ser sustentada ponto por ponto, resulta tão forte para o nosso propósito, que por ela se pode ao mesmo tempo ver e relembrar quase todas a paixões que mencionamos. Mas não devemos supor que esta corrida tenha outro fim, nem outra utilidade, que ir sempre adiante;

assim,

fazer esforço, é o apetite;
ser indolente, é a sensualidade;
considerar os que ficam atrás é a glória;
considerar os que estão à frente é a humildade;
perder terreno olhando para trás, a vanglória;
ser reservado, o ódio;
voltar atrás, o arrependimento;
ter fôlego, a esperança;
estar lasso, o desespero;
tentar ultrapassar o que o precede, a emulação;
suplantar ou arruinar, a inveja;
estar resolvido a passar outro numa paragem prevista, a coragem;
passar outro numa paragem imprevista, a cólera;
passar facilmente, a magnanimidade;
perder terreno em pequenos obstáculos, a pusilanimidade;
cair de repente, é a disposição para chorar;
ver um outro cair, a disposição para rir;
ver ultrapassar alguém que não queríamos que o fosse, é a piedade;
ver alguém ultrapassar quando o não queríamos, é a indignação;
manter-se muito junto dum outro, é amar;
ajudar aquele que se mantém perto, é a caridade;
ferir-se por precipitação, é a vergonha;
estar sempre ultrapassado, é a miséria;
ultrapassar sempre o que o precede, é a felicidade
abandonar a corrida, é morrer.


Thomas Hobbes, Elementos de Lei Natural e Política

Wednesday, September 27, 2006

Verdade apodítica?

Falando sério: se há algo que não entendo em filosofia é a tal da verdade apodítica, que prescinde de demonstração. Não faz parte do conceito de razão a demonstração? Então como posso aceitar que uma verdade autoevidente, o que quer que isso signifique, seja racional? Eu quero dizer: se o ponto de partida de toda demonstração é uma verdade indemonstrável, então o ponto de partida da razão é a não-razão.

Eu disse que não entendia. :-)))

Tuesday, September 26, 2006

Ideogramas egípcios

Veja em http://www.youtube.com/watch?v=tpLfFMhyGPc

Friday, September 22, 2006

Só nuvem

Disco voador? Cristo? Círculo de luz? Invasão de pernilongos? Fim do mundo? Nossa Senhora?

Nuvem.

Clique no título e confira.

Thursday, September 21, 2006

Astrólogos encontram abrigo

A astrologia já tem um porto seguro: a Universidade de Brasília. Se você quiser fazer um curso de extensão em astrologia, ou simplesmente estudar o assunto a sério e ainda ganhar um título acadêmico para isso, agora você pode. Vá a Brasília. Mas vá logo, porque os cursos são concorridíssimos.

Não é lindo que a comunidade científica tenha finalmente aberto os olhos para esse conhecimento milenar?

Tuesday, September 19, 2006

Democracia

Já dizia Aristóteles que o melhor governo é a aristocracia (o melhor governo é certamente o governo dos melhores).

Como a aristocracia tende a degenerar em oligarquia (o governo dos ricos), a oligarquia tende a degenerar em monarquia (porque os ricos elegem alguém para governar) e a monarquia tende a degenerar em tirania (quando o monarca governa em seu próprio interesse, e não no interesse dos governados), o melhor regime de governo acaba sendo mesmo a democracia (originalmente o governo dos pobres), porque só ela tende ao melhor.

Trocando em miúdos, por minha conta e risco: a democracia é o melhor governo porque não pode ser pior do que é. :-))

E viva o liberalismo!

Sunday, September 17, 2006

Eu vi jesus em Kawangware, falando Swahili

No princípio era o anúncio do reverendo: Jesus vem a Nairobi.

E então ele chegou, abençoando os quenianos em Swahili. Feito isto, Jesus pegou uma carona com um habitante de Kawangware, desceu próximo ao número 56 da rua Stage II e ali mesmo retornou aos céus em forma de estrela brilhante, que pode ser vista novamente sempre que uma tal Mary Akatsa cura os doentes.

Veja detalhes da história clicando no título. Pelo menos você saberá que a língua falada no Quênia é Swahili, que existe uma cidade chamada Kawangware e que nesta cidade existe um lugar chamado Stage.

Mas não empolgue. Você vai continuar sem entender por que, indo a Kawangware, Jesus cumpriu a profecia de que iria a Nairobi (Vai ver que Kawangware é só um bairro de Nairobi).

Não importa. O que importa é que, se ele conseguiu uma carona para ir a Kawangware, ele pode ir a qualquer lugar.

Pense nisso.

Friday, September 15, 2006

Coisa de grego (6): A vaia

Sabia que a vaia é grega?

Nas assembléias, quando o povo discordava do orador, ele gritava "uuuuuuuuuuuu" tão alto, que não havia alternativa ao orador senão desistir de falar.

Pois é, isso é vaia, mas esse "uuuu" significava "não". Em grego, "não" é "ouk", cuja pronúncia é um "u" longo (a consoante, fraca, quase não é pronunciada). Portanto, quando o povo gritava "uuuuuuu", estava simplesmente dizendo não.

Thursday, September 14, 2006

Fisiologia da loucura (1): Negros vapores da bile

Já houve tempo em que se pensava que a loucura não passava de uma reação hepática:

..."A não ser, talvez, que eu me compare a esses insensatos, cujo cérebro está de tal modo perturbado e ofuscado pelos negros vapores da bile que constantemente asseguram que são reis quando são muito pobres; que estão vestidos de ouro e de púrpura quando estão inteiramente nus; ou imaginam ser cântaro ou ter um corpo de vidro. Mas quê? São loucos e eu não seria mais extravagante se me guiasse por esses exemplos." Descartes, Meditações 1:4

Wednesday, September 13, 2006

Ele está voltando

O mundo não acabou dia 12 de setembro, mas acabará em breve. Jesus está voltando. A conceituadíssima revista UFO garante em primeira mão a volta de Jesus até o Natal.

Só não entendi onde está a novidade. Jesus sempre volta na época no Natal e na Semana Santa, não é? Então.

Sunday, September 10, 2006

Delírios de Rousseau (3): Consciência cavalar

Eu tinha me esquecido de como é divertido ler Rousseau.

A gente descobre, por exemplo, que os cavalos sentem repugnância de pisar em um ser vivo.

Antes que a gente se recupere, somos informados de que a repugnância se deve à piedade natural, responsável também por evitar que os humanos sejam monstros.

Então, trocando em miúdos: os cavalos não pisam em seres vivos porque sentem repugnância em fazê-lo, e o sentem porque são naturalmente piedosos. Sem a piedade natural, os animais seriam animais, mas os humanos seriam monstros.

Mas não se preocupe. Tirando os delírios, o que fica é genial. :-))

E viva o liberalismo!

Saturday, September 09, 2006

Delírios de Rousseau (2): Vacas piedosas

Já dizia Rousseau, sobre a piedade natural:

Um animal não passa sem inquietação ao lado de um animal morto de sua espécie; há até alguns que lhes dão uma espécie de sepultura, e os mugidos tristes do gado entrando no matadouro exprimem a impressão que tem do horrível espetáculo que o impressiona. (Segundo Discurso, parte 1)

Acho que as vacas do século XVIII não sentiam medo.

Monday, September 04, 2006

Declaração de Bolonha

Sabe o Tratado Comum Europeu e a moeda comum européia? Pois é, agora haverá a universidade comum européia. A carta de intenções é a Declaração de Bolonha, de 1999, que está sendo implantada paulatinamente.

Ao que parece, a "evasão de cérebros" do Brasil vai aumentar.

Sunday, September 03, 2006

Seita de Ateus

E por falar em orgulho ateu: por que não fundar uma Seita de Ateus?

Sim, por que não?

A única regra é que todos os congregados sejam ateus praticantes. Não basta, portanto, ser-se ateu; é preciso praticar o ateísmo. Isto é, é preciso ter experiência comprovada não somente na vivência atéia mas, sobretudo, na militância atéia.

Para que não haja dúvidas sobre este preceito, que fique registrado: é preciso que o ateu tenha larga experiência (comprovada, repito) no combate não apenas às religiões, mas sobretudo a toda e qualquer idéia deísta. É preciso que o ateu militante deseje, do fundo do coração, que toda e qualquer idéia de deus seja abolida, e que toda a humanidade comungue dos mesmos ideais.

É preciso, ainda, que todo ateu tenha uma crença firme e inabalável na não-existência do inexistente e que dedique sua vida a demonstrar que a crença na existência do inexistente é uma contraditio in terminis. Ou seja, que há uma impossibilidade lógica na existência do inexistente. A ausência de prova é, neste caso, prova de ausência.

Deste primeiro preceito podemos derivar um raciocínio fundamental: não é lógico que deus exista; logo, deus não existe.

Isto, sem dúvida, é diferente de dizer que é lógico que deus exista; portanto, deve existir.

No segundo caso, a subjetividade está envolvida, enquanto o primeiro é inteiramente objetivo, posto que se apóia na lógica. Portanto, o primeiro é verdadeiro e o segundo, ilusório.

É bem verdade que nenhum ateu está planejando jogar aviões em prédios; só deístas fazem isso. Mas é bom ficarmos atentos. Paixões são sempre paixões.

Friday, September 01, 2006

Dia do orgulho ateu

Proponho que o dia de hoje, primeiro de setembro, seja o Dia do Orgulho Ateu. É que já há tantos feriados religiosos, dia das mães, dos pais, das crianças, dos professores, dia da bandeira, dia do índio, dia da árvore etc etc. Por que não podemos ter também um dia do Orgulho Ateu? Afinal de contas, todo ateu que se preze tem orgulho de seu ateísmo, não é?

Então.