Sunday, April 30, 2006

Vou estar usando o gerúndio agora

Como ando preocupada com um problema absolutamente irrelevante, vou estar escrevendo agora sobre o uso abusivo do gerúndio porque, a continuar desse jeito, vamos todos estar falando e estar escrevendo só desse modo. Mas tudo bem, vou estar explicando isso melhor: é que aprendemos com os americanos que nós podemos sim - por que não? - estar fazendo alguma coisa em um futuro contínuo, o que é inteiramente diferente de estar fazendo alguma coisa no presente contínuo. Nós vamos estar percebendo que a utilização do gerúndo no tempo futuro significa que vamos estar praticando a ação do verbo no gerúndio repetidas vezes ou por um determinado período de tempo. Isto é, nós não vamos estar praticando uma ação por uma vez ou em um instante apenas; nós vamos estar praticando a ação do verbo no gerúndio (neste caso, vamos estar praticando) mais de uma vez, ou de modo contínuo. Por exemplo: dizer que vamos estar abrindo a porta é diferente de dizer que vamos abrir a porta. "Abrir a porta" significa praticar a ação uma vez, e pronto. "Estar abrindo a porta" significa estar praticando a ação repetidas vezes, ou estar praticando a mesma ação por um determinado período de tempo. Como ninguém vai estar abrindo a porta seguidas vezes, é o caso então de se pensar que vamos estar abrindo a porta durante algum tempo. Mas como isso também não pode ser, já que temos mais o que fazer, então o melhor mesmo é que a gente vá estar entendendo que, na maior parte das vezes, o gerúndio não se aplica ao futuro e, consequentemente, não vá estar pensando em estar falando desse modo no futuro, contínuo ou não.

Saturday, April 29, 2006

O paradoxo do vovô

E por falar em viagem no tempo, um dos argumentos mais usados contra a idéia é o "paradoxo do vovô", basicamente a alegação de que, se você pode viajar no tempo, então poderia (em tese) matar seu avô quando ele fosse muito jovem e, assim, tornar seu nascimento impossível.

Prá complicar: isto significa dizer que a viagem no tempo tornaria possível gerar uma causa que teria como efeito eliminar a causa de um efeito que é causa de todo esse efeito. Logo, a viagem no tempo viola o princípio de causalidade. Portanto, não é possível.

Certo, mas isso tudo é lógica. O melhor argumento continua sendo mesmo o de Stephen Hawking: onde estão os turistas do futuro, meu bem?

Friday, April 28, 2006

Túnel do tempo

Já dizia Agostinho, sobre o tempo: se não me perguntam o que é, eu sei; se me perguntam, já não sei.

Nós podemos até não saber o que é o tempo, mas parece que vamos viajar nele. Ao menos em teoria a viagem no tempo é possível, dizem os cientistas.

Imagine... Stephen Hawking está enganado: os turistas do futuro já chegaram. Só estão invisíveis. :-)))

Thursday, April 27, 2006

Nefelibata (7): Altostratus

As nuvens do tipo altostratus formam no céu uma camada uniforme branca ou cinza, que pode produzir precipitação muito leve. Esta configuração do céu no momento do nascimento resulta em um nativo de temperamento tranqüilo, reservado, prático, persistente e paciente, além de uma inclinação despojada e muito preguiçosa. A forte imaginação do Altostratus, aliada à receptividade psíquica, faz com que o nativo prefira viver nas nuvens.

Profissões recomendadas: paraquedista, decorador, cozinheiro, pintor de paredes ou psiquiatra.

Conselho: Procure evitar expôr-se ao sol, Altostratus.

Flor: Catléia

Pedra: Calcário Cristalino

Wednesday, April 26, 2006

Porco-espinho alienígena

Desde a década de 80 tem surgido, no interior da Inglaterra, marcas circulares em plantações. Ninguém sabe dizer com certeza qual é a origem destes círculos. O governo, acusado de ser o autor das marcas, resolveu oferecer um prêmio a quem tivesse uma teoria consistente sobre sua origem.

Surgiram várias teorias, quase todas esdrúxulas:

a) Balonistas disseram seus balões, ao descer nas plantações, provocaram a formação dos desenhos;
b) Dois artistas sexagenários, Doug Bower e David Chorley, disseram serem os responsáveis pela "arte";
c) Foram os alienígenas, claro. Eles explicam tudo.
d) São resultado de alterações climáticas;
e) É tudo coisa de poltergeist;
f) Quem sabe não foram redemoinhos que desenharam sem querer os círculos?
g) É efeito da camada de ozônio;
h) Os fungos fizeram tudo sozinhos;
i) Foram os porcos-espinhos comedores de cogumelos mágicos que voaram e fizeram com que o ar deslocado marcasse as plantações;
j) É efeito de radiação;
k) Aviso de extra-terrestres;
l) Obra de intra-terrestres;
m) et cetera;
n) et cetera;
o) et cetera.

À parte essa bobagem toda, os círculos são realmente impressionantes, com desenhos simétricos e às vezes bastante complexos. Veja algumas fotos no link indicado no título.

Veja ainda o video:

http://www.youtube.com/watch?v=vDQqlZIuCQA

Monday, April 24, 2006

Nefelibata (6): Cirruscumulus

Seu destino está escrito em nuvens finas, brancas, de cristais de gelo, em forma de ondas, nativo de Cirruscumulus. Por temperamento você é pessoa objetiva, independente e inconvencional. Faz questão de poder movimentar-se livremente. É cordial com todos e gosta de participar de atividades em grupo. Sente-se atraído pelas novidades e inovações e por tudo o que é moderno. Portanto, compartilhe a sabedoria cósmica com alguém próximo a você. Dissolva as mágoas, livre-se de um passado que entristece, reveja sua biografia e reinvente-se outra vez. Para isso você conta com a imaginação delirante e o senso de irrealidade que são suas maiores qualidades.

Antecendente: Céu sem nuvens
Meio-céu: Nimbus
Sol em Zênite
Futuro imediato: Cumulus
Futuro próximo: Nimbus
Futuro iminente: Cumulonimbus
Futuro distante: Stratus

Sunday, April 23, 2006

Lá vem o sol!

Os cientistas estão afirmando que a luz do sol não somente reduz o risco de alguns tipos de câncer como também é fonte de felicidade. Sim, de felicidade. Parece que a privação do sol gera depressão pela supressão de serotonina. Quem diria. Então é por isso que nossa geração vive tão deprimida: não sai de quartos, salas, prédios, carros.

Wednesday, April 19, 2006

Máquina de ensinar

Estou convencida de que o futuro da educação é a internet.

Assim como há máquinas que tricotam, imprimem livros, montam carros, entretém o trabalhador após o expediente, escrevem, calculam, etc. etc., há uma máquina de ensinar: o computador conectado à internet.

A automação industrial reduziu a mão-de-obra e ampliou o setor de serviços (embora isso não tenha resultado necessariamente em aumento de empregos). Certo, isso nós sabemos. O que ninguém parece enxergar é que a internet forja uma geração de autodidatas, o que torna cada vez mais obsoleta a figura do professor em sala de aula, com quadro e giz, explicando como se resolve uma equação de segundo grau a um grupo de adolescentes cujo principal assunto é o Orkut.

Se minha teoria catastrófica estiver correta, a maquininha de ensinar já foi inventada e já está em pleno uso. O desemprego tecnológico chegou à escola.

Tuesday, April 18, 2006

Nefelibata (5): Cumulus

As nuvens do tipo Cumulus são densas, com contornos salientes, ondulados e bases freqüentemente planas, com extensão vertical pequena ou moderada. Consequentemente, os nativos desta nuvem têm uma personalidade extrovertida, de fácil adaptabilidade e forte senso de responsabilidade. A posição das nuvens Cumulus em trígono com Cirrus no momento do nascimento, entretanto, indica exatamente o oposto.

Em relação às amizades o nativo de Cumulus é protetor, gentil e honesto, desde que não haja em seu mapa natal nenhuma conjunção desfavorável de Cumulus-Nimbus, o que pode sugerir um temperamento arredio, ciumento e dissimulado.

Pontos fortes: sistema nervoso central e trato respiratório.

Quadruplicidade: fixa
Pedra: paralelepípedo
Cor: rosa
Flor: trevo
Metal : mercúrio cromo

Saturday, April 15, 2006

Chorar faz bem

Uma das experiências literárias mais marcantes que tive foi a leitura de O Estrangeiro, de Camus. Durante todo o desenrolar da história, o que nos incomoda em Mersault é o seu absoluto distanciamento emocional dos eventos de que é protagonista. Mersault vai ao enterro da mãe, mas está preocupado em observar o que acontece à sua volta; tanto faz casar-se ou não com a namorada; ele mata, mas isso não o afeta de modo algum. O julgamento de Mersault não é outra coisa senão a condenação deste distanciamento.

Quando vejo o desenrolar da história desta garota que mandou matar os pais, Suzane Richthofen, fica evidente que o que importa, a única coisa que realmente importa para a opinião pública, é saber se ela é capaz de se arrepender, de se comover, de chorar.

Francamente, que importa se essa menina está arrependida ou não? Faz alguma diferença?

Friday, April 14, 2006

Pesquisa é pesquisa

Pedi aos alunos que fizessem uma determinada pesquisa. Recebi de um deles, por e-mail, um link. Só o link.

A pesquisa foi feita, ou não foi feita?

Wednesday, April 12, 2006

Os gnósticos e o capeta (3)

Outro ponto de divergência entre os gnósticos e os cristãos também envolve a figura do diabo: para os cristãos, Lúcifer era um anjo decaído. Para os gnósticos, cada um de nós possui uma alma imortal que habitava um outro mundo. Por alguma razão, esta alma cometeu algum deslize e foi expulsa do lugar que habitava anteriormente, sendo aprisionada à matéria (ou seja, a um corpo). O objetivo de cada alma é libertar-se da matéria e retornar ao lugar de origem, o que só pode fazer pela via do conhecimento.

Enquanto os cristãos supõem um senhor do mal, Lúcifer, os gnósticos acreditavam que cada um de nós possui um daimon, uma alma imortal expulsa de seu lugar de origem e aprisionada no corpo.

Tuesday, April 11, 2006

Os gnósticos e o capeta (2)

Continuando o assunto "Os gnósticos e o capeta", iniciado no post anterior. O problema apresentado, para resumir, reside no seguinte: se o bem é imaterial e representa a totalidade, de onde vem o mal, ou seja, o mundo material?

A resposta é simples: em um extremo está o bem. Em outro, o mal. Entre eles há uma série finita de emanações (algo em torno de 52). A cada emanação, um grau maior de imperfeição. Logo, o último ser imaterial, afastado que está da perfeição originária, já carrega em si a maldade. Este é o único ser espiritual capaz de criar a matéria originária e, a partir dela, todo o universo como o entendemos.

Em outras palavras: para os gnósticos, quem criou o mundo em sete dias não foi deus; foi o diabo. A existência do diabo é gerada não por seu contrário, o bem, mas por um processo de mutação inevitável e irreversível no mundo imaterial.

Esta crença é a base de todas as outras divergências entre os cristãos e os gnósticos. O Evangelho de S. Judas (que, reza a ciência, foi encontrado na década de 70), faz de Jesus o arquiteto de sua morte (para libertar o espírito da matéria) e, de Judas, o seu fiel ajudante.

Monday, April 10, 2006

Os gnósticos e o capeta (1)

Os antigos gnósticos, que sobreviveram até os primeiros séculos de nossa era, acreditavam que a matéria é má e que a totalidade, a verdade, o bem, a justiça e a perfeição pertencem ao mundo imaterial. Muito bem. Mas, se o imaterial é bom e perfeito, como explicar a origem do material, que é mau e imperfeito?

Há duas hipóteses possíveis: ou o mal deriva do bem, ou não.

Portanto:

1. Se o mal deriva do bem, então há algo de mal no bem. Se há algo de mal no bem, o bem não é tão bom assim. Ora, isto não pode ser. Logo, não é verdade que o mal deriva do bem.
2. Se o mal não deriva do bem, então o mal deriva do mal. Mas, se o mal derivar do mal, então há duas forças equivalentes no universo: o mal e o bem. Ora, o mal não pode se equivaler ao bem. Portanto, o mal não deriva do mal.

a) Perfeito. Supondo a correção dos passos dados até agora, a consequência é a eliminação das duas hipóteses. O que fazer, então? Rever o conectivo. Isto é, rever a operação exclusiva "ou-ou". Há uma terceira possibilidade.

Então:

i. O mal deriva do bem;
ii. O mal não deriva do bem;
iii. Nenhuma das alternativas anteriores.

b) Mantendo que as alternativas anteriores sejam absurdas, é necessário inferir a terceira (já que esta alternativa inclui todos os casos possíveis em que 1 e 2 não se verificam). Certo? Errado. Tudo errado a partir de a.

Revendo a: eu parti da suposição de que as inferências 1 e 2 estavam corretas, mas a inferência 2 não está. Eu comecei com a afirmação de que, se o mal não deriva do bem, então o mal deriva do mal. Não necessariamente, né? Há outras possibilidades dentro da hipótese "O mal não deriva do bem".

Mas a grande pergunta, a pergunta que não quer calar, é: o que o capeta tem a ver com tudo isso? Qual é o propósito de todo esse blá-blá-blá?

Ora, prestenção. O bem (o lógico, o racional, o razoável) pode gerar em seu interior o mal (a má-fé, o engano, o artifício), ou o engano deriva de outra fonte?

Não é importante saber disso?

Então.

Não perca a resposta neste mesmo blog, no próximo post.

Sunday, April 09, 2006

Século vigoréxico

A vigorexia é uma doença realmente nova. Trata-se da compulsão por malhar. Sim, malhar. Tem gente que gosta; tem gente que detesta; tem gente que vive para malhar. E tem gente preocupada em classificar essa gente toda.

Saturday, April 08, 2006

Espiritologia

Um tal Guilherme de Ockham disse, há seiscentos anos atrás, que não devemos multiplicar desnecessariamente os seres. Pois eu concordo inteiramente: já basta o que temos.

Então, para evitar que novas entidades apareçam, achei que devia classificar logo as existentes:

- Mulher velha e ranzinza, de xale (por que fantasma velho não voa?);
- Preto velho, com cachimbo na boca, bem ao estilo Cabana do Pai Tomás;
- Fantasma esvoaçante, azul, etéreo, que nunca põe os pés no chão;
- Criança;
- Duendes verdes;
- Gnomos de todas as cores;
- Dragões;
- Sátiros;
- Mefistófeles.

Esqueci alguma aparição?

Thursday, April 06, 2006

É necessário caçar raposas

E aqueles que crêem que os homens são muito pouco sensatos por passar o dia inteiro correndo atrás de uma lebre que não gostariam de ter comprado, não conhecem muito a nossa natureza. Essa lebre não nos preservaria da visão da morte e de suas misérias, mas a caça - que dela nos afasta - nos preserva.

Pascal. Pensamentos.

Monday, April 03, 2006

Geografia da justiça

"Bela justiça é a que é delimitada por um rio". Pascal.

Leia-se o contrário, claro.

Saturday, April 01, 2006

César e a cesariana

Reza a lenda que, quando Júlio César estava para nascer, os médicos foram obrigados a fazer uma incisão na mãe, para retirar a criança.

Dificilmente esta história é verdadeira, mas o nome do procedimento vem daí.