Thursday, June 30, 2005

Hieróglifos para iniciantes

Sugeri aqui, há algum tempo, uma solução definitiva para todos os problemas com a língua portuguesa: recorrer a hieróglifos.

E não é que encontrei um curso online em escrita egípcia antiga?

Olhe só as vantagens do curso: quando encontrar uma múmia egípcia, você vai poder ler a inscrição. O curso também melhora a coordenação motora, porque você terá de desenhar todas aquelas figurinhas repetidas vezes. Uma palavrinha de cinco letras e lá se vão uma coruja, uma balança, um olho, uma cesta e uma cobrinha. Isto, claro, se essa palavrinha for o sujeito da oração. Se for, por exemplo, um objeto direto, então a sequência é outra: coruja, balança, olho, cesta (a raiz, tá?), um pato, uma perna e uma cabeça de macaco. Se for um objeto indireto, troque o pato, a perna e a cabeça de macaco por um leão, um homem sentado e um sacerdote. Uma conjunção, e temos um braço, um prato e um sol. Um pronome, e eis um braço e um pé. Se for um verbo, lá está a conjugação seta, peixe, mulher, vaca.

Visualize agora um parágrafo inteiro. Não é lindo?

Mas o melhor de tudo é poder escrever - e ler - da esquerda para a direita, da direita para a esquerda, na horizontal (linhas) e na vertical (colunas). Imagine. Não faz a menor diferença.

E depois dizem que as pirâmides foram construídas por deuses astronautas. Com uma escrita tão flexível assim, faz-se qualquer coisa. Olhe só o exercício de raciocínio: antes de começar a ler, é preciso identificar primeiro em que direção aquele texto específico foi escrito.

Faça o curso. Se um dia visitar o Egito, ele será útil. Se não, será de graça. :-))

Wednesday, June 29, 2005

Movimento antropofágico intraterrestre

Um tal Scott Krause encontrou pela frente, em janeiro de 2004, seres intraterrestres antropófagos. Morto de medo, tentou escapar. Na fuga, assaltou uma loja, roubou um carro, dirigiu em alta velocidade, perdeu o controle da direção, bateu em um caminhão e matou o motorista.

O que aconteceu depois? Os tais hemadrones, os seres intraterrestres, desapareceram imediatamente. Sem levar nada. Na certa, ficaram assustados com o acidente.

Krause será julgado na próxima semana. O advogado vai, sim, insistir na história que contei acima e alegar insanidade. Krause acreditava realmente estar sendo perseguido por seres vindos do interior da terra. O que eles queriam? Um pedaço, pelo menos.

Tuesday, June 28, 2005

P-r-e-s-t-e-n-ç-ã-o

Em Hong Kong, uma mulher passou um mês inteiro com uma sanguessuga de 5 cm no nariz, mas o melhor da história é que ela nem percebeu. Repito: um mês inteiro com uma sanguessuga no nariz e nem percebeu. Pior ainda: parece que não percebeu nem quando ganhou o bichin, ao lavar o rosto em um riacho. Só foi ao médico porque o nariz não parava de sangrar.

Será que esse é um caso de Transtorno de Déficit de Atenção? Deve ser, né? Não dá prá imaginar atenção mais deficitária que essa.

Monday, June 27, 2005

Assim não vale

O escultor grego Praxíteles, que viveu no séc. IV a.C., queria fazer uma estátua de Afrodite, mas precisaria, para isso, encontrar uma modelo cuja beleza estivesse à altura da deusa do amor e, ainda, alguém que aceitasse ser representada nua. A segunda parte seria ainda mais difícil, já que os gregos julgavam que o corpo feminino não deveria ser exposto. A iniciativa seria considerada, com certeza, uma séria ofensa à deusa e aos costumes.

Praxíteles resolveu o problema usando como modelo uma hetária (espécie de cortesã-sacerdotisa da antiguidade) e trabalhando às escondidas. Mesmo com todos os cuidados, foi descoberto. A esta altura, já havia concluído o trabalho (clique no título para ver a escultura).

Praxíteles e Frinéia, a hetária, foram levados a julgamento. Pelo sacrilégio, a pena seria a execução. Os acusadores alegavam que nenhum mortal poderia se igualar, em beleza, à deusa do amor.

Frinéia não se fez de rogada. Usou, para se defender, um argumento bastante simples: ficou nua diante do júri.

Inocente.

Sunday, June 26, 2005

O crime que a ficção desvendou

Em 28 de julho de 1841 um cadáver foi encontrado no Rio Hudson, New Jersey, costa oeste dos Estados Unidos. Tratava-se de Mary Cecília Rogers, uma jovem de 20 anos que trabalhava em uma tabacaria de Nova Iorque e que estava desaparecida há três dias. As evidências indicavam que a mulher havia sido espancada, violentada e morta, possivelmente por duas ou três pessoas.

A violência do crime, o estado em que se encontrava o corpo, quase irreconhecível, o fato de tratar-se da “moça bonita da tabacaria” e, claro, o mistério que envolvia a história, fizeram com que o caso fosse explorado à exaustão pela imprensa. Acrescente-se a este fato um outro, também lamentável: o suicídio do noivo, que se sentia incapaz de conviver com o que Mary havia supostamente sofrido.

O que torna este crime peculiar é o fato de ter sido solucionado pela ficção, em conto do escritor americano Edgar Allan Poe (1809-1849).

Poe acompanhou o que foi publicado sobre o assunto e escreveu o conto intitulado “O mistério de Marie Rogêt”, em que argumenta em favor de uma hipótese bastante distinta da linha de investigação da polícia. Em seguida, entregou o conto ao delegado, pedindo que investigasse sua hipótese.

Para Allan Poe, não houve estrangulamento, não houve espancamento, não houve estupro, não houve assassinato, não havia envolvimento de uma quadrilha na história. Houve crime? Sim.

Enfim, o que teria acontecido a Mary Cecília Rogers?

Leia o conto. :-))

Tuesday, June 21, 2005

Quem te conhece que te compre

Nos episódios recentes envolvendo a Câmara dos Deputados, um argumento vem sendo repetido ad nauseam pelos envolvidos, quaisquer que sejam: “quem me conhece sabe muito bem que...”

Surge uma denúncia, alguém é acusado, aparece uma suspeita, e eis o refrão: "quem me conhece sabe muito bem que..."

Este argumento é obviamente falacioso e funciona da seguinte forma: tenta-se convencer uma audiência da honestidade do ofendido usando para isso o suposto bom julgamento de pessoas próximas. Como não conhecemos nem aquele que se defende, nem seus familiares e amigos próximos e menos ainda sabemos o que dizem, só nos resta confiar na palavra daquele que está sob suspeição. Ou seja, o argumento supõe a honestidade de A com base na afirmação de A de que quem conhece A sabe da honestidade de A.

É isso mesmo.

Pela frequência com que é repetido, é possível supor que seja eficiente.

Monday, June 20, 2005

A natureza oblíqua da mulher

Outra passagem digna de nota do Malleus Malleficarum, de Kramer & Sprenger, é a referência ao caráter naturalmente ‘torto’ da mulher. O argumento consiste no seguinte: Eva foi feita a partir de uma costela de Adão. Ora, as costelas são ossos curvos. Se a matéria-prima da mulher é naturalmente curva, ela só pode tender para o que é torto. Logo, não há retidão moral na mulher.

É, pois é.

Sunday, June 19, 2005

Identificação datiloscópica de bruxas

Lembra da Maga Patológica e da Madame Min?

Pois é, os medievais juravam que elas existiam, viviam entre nós, faziam poções mágicas, eram malvadas, voavam e, o mais grave, transformavam homens em animais.

Esse povinho Wicca tem feito de tudo para provar que as bruxas existem (o que dá razão ao medievo), mas estou interessada mesmo é na técnica usada para separar o joio do trigo. Isto é, como saber com certeza se uma mulher é bruxa ou, digamos, honesta?

Esse é um problema masculino, claro, e vou deixar que os monges dominicanos Heinrich Kramer e Joseph Sprenger o resolvam. Eles têm dicas eficientíssimas para jamais perder a humanidade nas mãos de uma bruxa: antes de mais nada, verifique se a mulher suspeita tem olhos verdes. É um indício seguro de feitiçaria, sedução e perdição.

Se a mulher não tiver olhos verdes, isso não quer dizer nada. Pode ser bruxa assim mesmo. O diabo é ardiloso, viu? Procure então por marcas de nascença, especialmente marcas das mordidas do capeta no corpo da mulher sob suspeição. É para procurar mesmo.

Então. Não há olhos verdes e o corpo sob suspeita aparentemente não foi mordido. Resolvido o assunto? Coisa nenhuma! Tudo pode ser enganação, disfarce, maquiagem. O jeito é procurar o terceiro seio. Se houver, será bruxa com certeza. Se não houver, ainda assim pode ser bruxa. É preciso lembrar sempre que o diabo é enganador.

Frustrante: a mulher examinada não tem olhos verdes, não tem marcas de nascença e só tem dois seios. O que fazer? Desistir do assunto? Assumir que houve engano? Declarar a inocência?

Precisa não. Ainda há recursos. Passe logo para o momento seguinte: tente arrancar uma confissão sob tortura, mas faça o impossível para que ela não confesse antes. É que só uma confissão sob tortura é verdadeira. Quem confessa espontaneamente o faz por medo de ser torturado, entende?

Após tantos esforços, ainda não temos a prova inconteste? A mulher sob suspeita não tem olhos verdes, marcas de nascença, terceiro seio e, lamentavelmente, confessou antes de ser torturada. Não há ainda prova definitiva, irrefutável, absolutamente segura? Que pena. Mas ela é possível, sim.

Passe para o teste final: amarre uma pedra de bom tamanho ao corpo da mulher, que deve ser atirada com vida a um rio. Se boiar, você saberá com certeza que ela é inocente, e pode deixá-la ir em paz. Esta nunca o transformará em porco. Nem em corno, né?

Se for para o fundo do rio, é culpada. Claro, isso não tem nada a ver com o peso da pedra, mas sim com o peso da culpa. Vá para a casa em paz. Essa também nunca o transformará em porco. Nem em corno.

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Sim, Kramer e Sprenger realmente existiram e, em 1484, publicaram o livro intitulado Malleus Malleficarum (O Martelo das Feiticeiras, publicado no Brasil pela Rosa dos Ventos), de onde tirei essas orientações. Com a licença do estilo na descrição, é isso mesmo.

Saturday, June 18, 2005

Schopenhauer, striking again

Onde está este nada, cujo abismo tanto temes?

Sunday, June 12, 2005

Ôu, eu não!

Clístenes, um aristocrata grego cheio de idéias progressistas, assumiu o poder em Atenas após liderar a rebelião que derrubou o tirano Hípias.

Para afastar qualquer ameaça de retorno a um estado tirânico, Clístenes inventou e inaugurou a prática chamada “ostracismo”, que consistia no seguinte: cada membro da Assembléia popular, de que faziam parte 6000 homens, podia escrever, numa concha chamada ostrakón, o nome de um cidadão que, a seu ver, constituísse ameaça para o Estado. Se houvesse 3000 votos, o denunciado seria exilado por 10 anos, sem direito a defesa.

Quando o presidente da Assembléia perguntou aos presentes se haveria entre eles alguém que devesse ser considerado perigoso para o Estado, a resposta, que reuniu os três mil votos, foi: "Clístenes, Clístenes!"

Pelo visto só queriam a idéia, e nem era tão boa assim.

Monday, June 06, 2005

Receita caseira para fazer insetos e ratos

A quem interessar possa: há uma receita infalível para fazer insetos e ratos. O procedimento é muito semelhante ao de um bolo: basta seguir as instruções.

Quem garante a veracidade do que estou dizendo é o médico e químico flamengo Jean Baptiste Van Helmont, que viveu no século XVII. Eis duas de suas receitas infalíveis, constantes do livro "Obras de Medicina e de Física":

“Faça um buraco em um tijolo e ponha ali erva de manjericão bem triturada. Aplique um segundo tijolo sobre o primeiro e exponha tudo ao sol. Alguns dias mais tarde, tendo o manjericão agido como fermento, você verá nascer pequenos escorpiões”.

Para produzir ratos, basta “comprimir uma camisa de mulher, suja, em um vaso guarnecido de trigo. Espere 21 dias. O fermento vindo da camisa, modificado pelo odor dos grãos, transformará em rato o próprio trigo”.

Van Helmont estudou Filosofia e Direito antes de se dedicar à Medicina. Olha só. Nem precisava, né?

Mas surpreendente mesmo é que, em uma Europa infestada de ratos, o homem tenha tido criatividade suficiente para estudar um modo de fabricar... ratos!

Ah, tá, o experimento era sobre geração espontânea. Certo.

Sunday, June 05, 2005

Meu joelho não é normal

Venho sentindo dores nos joelhos há cerca de dois meses. Segundo o médico que me atendeu esta semana, o caso é de uma simplicidade atroz: meu joelho não é normal. Simples assim.

Os exames não detectaram lesão, doença, fratura ou arranhão. Nada, exceto osso mal formado. Esquisito mesmo. Patela pontiaguda, para ser mais exata.

Legal, né? Com tanto problema sem solução no mundo, eu tinha de arrumar logo uma solução sem problema.

Confesso que fiquei um tanto decepcionada. Nadinha, mesmo? Após esse tempo todo sentindo dores, esperava que pelo menos houvesse um remedinho pra tomar; quem sabe, talvez, um gesso, ou eventualmente uma cirurgia. Qualquer coisa que justificasse passar esse tempo todo mancando. Eu já estava até fazendo planos para comprar uma bengala. Mas não. A única coisa a fazer é eliminar todo e qualquer gatilho para as dores: salto alto, escada, bicicleta, peso excessivo, longas horas em pé etc. E mais nada.

O lado bom de tudo isso? Descobri que minhas pernas não são finas. O joelho é que é largo.

Kierkegaard, alive & kicking

Perante um desmaio, grita-se: Água! Água de Colônia! Gotas de Hofmann! Mas perante alguém que desespera, grita-se: possível, possível! Só o possível o pode salvar! Uma possibilidade: e o nosso desesperado recomeça a respirar, revive, porque sem possível, por assim dizer, não se respira.

(Desespero Humano)